A culpa materna pós-parto é uma “visitante” muito mais comum do que se imagina, mesmo quando ninguém fala sobre ela abertamente. A maternidade é frequentemente retratada como um estado de plenitude instintiva, como um comercial de margarina onde o sorrisos e a calmaria imperam. No entanto, para a vasta maioria das mulheres, a realidade do pós-parto é acompanhada por uma “visitante” indesejada e persistente: a culpa.
Se você já se sentiu culpada por querer dormir enquanto seu bebê chorava, por sentir saudade da sua vida profissional ou simplesmente por não estar “feliz o tempo todo”, saiba que você faz parte de uma estatística silenciosa, mas massiva. Dessa forma, dados indicam que cerca de 70% das mães brasileiras vivenciam sentimentos intensos de culpa no pós-parto e nos primeiros anos da maternidade. Por outro lado, em Portugal, estudos recentes revelam que a pressão social e a falta de redes de apoio têm levado a níveis recordes de exaustão e autocrítica entre as mães.
No Espaço Elleve, acolhemos diariamente mulheres que amam seus filhos profundamente, mas que se sentem esmagadas pelo peso de expectativas inatingíveis. dessa forma, a culpa materna não é apenas um “sentimento ruim”; ela é um mecanismo psicológico complexo que, se não for compreendido e manejado, pode abrir portas para a ansiedade, o burnout parental e a depressão pós-parto.
Portanto, este artigo é um convite para desconstruir o mito da “mãe perfeita”, entender a neurobiologia por trás dessas emoções e descobrir ferramentas práticas, baseadas na Psicologia Perinatal, para viver a maternidade com mais leveza e autocompaixão.
A Anatomia da Culpa: Por Que Nos Sentimos Assim?
A culpa materna não nasce com o bebê; ela é construída culturalmente e amplificada biologicamente. Dessa maneira, para superá-la, precisamos primeiro dissecá-la.
1. O Mito da “Mãe Perfeita” e a Cultura da Abnegação
Historicamente, a sociedade ocidental construiu a imagem da mãe como uma figura santa, abnegada e incansável. Assim, acredita-se, erroneamente, que a “boa mãe” é aquela que anula suas próprias necessidades em prol da prole. Portanto, quando a realidade impõe limites — o cansaço, a necessidade de tomar um banho demorado, o desejo de voltar ao trabalho — surge uma dissonância cognitiva. Você sente que está “falhando” porque o modelo idealizado é, por definição, inalcançável.
2. A Neurobiologia do Puerpério: O Cérebro em Alerta na Culpa Materna Pós-Parto
Durante a gravidez e o pós-parto, o cérebro da mulher passa por uma remodelação profunda, podendo ser comparável apenas com à adolescência. Assim a amígdala (centro de detecção de ameaças) torna-se hipersensível para garantir a proteção do bebê. No entanto, no mundo moderno, essa hipersensibilidade pode se voltar contra a mãe. Portanto, qualquer pequeno “erro” (o bebê chorou um pouco mais, a amamentação não fluiu hoje) é interpretado pelo cérebro como uma falha grave de proteção, disparando o alarme da culpa e da ansiedade. Isso não é fraqueza sua; é o seu sistema límbico trabalhando em overdrive.
3. Culpa Real vs. Culpa Neurótica
Na psicologia, diferenciamos dois tipos de culpa:
- Culpa Real (Reparadora): Surge quando cometemos um erro real (ex: esquecer de dar o remédio na hora certa). Ela é útil porque nos impulsiona a corrigir o erro e aprender.
- Culpa Neurótica (Persecutória): É a mais comum na maternidade. É a culpa por ser quem você é, por ter limites humanos, por sentir raiva ou cansaço. Ela não corrige nada; apenas paralisa e adoece. É sobre essa culpa que precisamos atuar.
Os Gatilhos Modernos: Redes Sociais e a “Maternidade de Vitrine”
Em nossos dias, enfrentamos um agravante: a hiperconectividade. Dessa forma, ao abrir o Instagram ou TikTok, a puérpera é bombardeada por imagens de mães “recuperadas” em tempo recorde, casas organizadas e bebês que dormem a noite toda.
Estudos confirmam que o uso excessivo de redes sociais no puerpério está diretamente correlacionado ao aumento da insatisfação com a própria maternidade e portanto, provoca sintomas depressivos. Assim, a comparação é o ladrão da alegria. portanto, é necessário entender que o que vemos na tela é um recorte editado, não a realidade crua dos bastidores.
Em Portugal, a associação Mullheres do Século XXI alerta para a pressão do “retorno à produtividade”, onde se espera que a mulher volte a ser uma profissional de alta performance como se não tivesse passado por uma revolução física e emocional.
Quando a Culpa Vira Doença: Sinais de Alerta
É crucial distinguir a culpa comum de quadros clínicos que exigem intervenção imediata. Pois a culpa excessiva é um dos sintomas centrais da Depressão Pós-Parto (DPP), que atinge cerca de 25% das mães brasileiras.
Dessa forma, fique atenta se a culpa vier acompanhada de:
- Ruminação: Pensamentos obsessivos sobre “erros” passados ou medos de falhar no futuro.
- Incapacidade de sentir prazer: Mesmo quando tudo está bem, você não consegue relaxar ou curtir o bebê.
- Irritabilidade extrema: A culpa muitas vezes se manifesta como raiva (do parceiro, do bebê ou de si mesma).
- Distúrbios do sono: Insônia mesmo quando o bebê está dormindo.
Se você se identifica com esses sinais, saiba que isso não é “frescura” ou falta de amor. Portanto, é uma condição de saúde tratável. A Terapia Online tem se mostrado uma ferramenta vital nesse contexto, pois permite que a mãe receba ajuda especializada sem a barreira logística de sair de casa com um recém-nascido.
Estratégias Práticas para Lidar e Superar a Culpa Materna Pós-Parto
No Espaço Elleve, trabalhamos com a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) para ajudar mães a ressignificarem a culpa. Aqui estão algumas ferramentas que você pode começar a usar hoje:
1. Pratique a Autocompaixão (Trate-se como sua melhor amiga)
A Dra. Kristin Neff, referência mundial em autocompaixão, sugere um exercício simples: quando a culpa vier, pergunte-se: “O que eu diria para minha melhor amiga se ela estivesse nessa situação?”. Provavelmente, você diria: “Você está fazendo o seu melhor, está exausta, é normal”. Por que, então, você diz a si mesma: “Sou horrível, não dou conta”? Mude o tom da sua voz interna.
2. Adote o Conceito de “Mãe Suficientemente Boa”
O psicanalista Donald Winnicott cunhou o termo “mãe suficientemente boa” para explicar que a perfeição não é apenas impossível, ela é indesejável. Um bebê precisa de uma mãe humana, que falha e repara, pois é assim que ele aprende sobre o mundo real e desenvolve resiliência. Seus erros ensinam seu filho a lidar com a frustração. Você não precisa ser perfeita; você só precisa ser suficiente.
3. Redefina Suas Prioridades (A Regra do “Agora Não”)
No puerpério, tentar dar conta de tudo (casa, bebê, marido, trabalho, corpo) é a receita para o colapso. Faça uma lista do que é essencial hoje. Tudo o que não for vital (como a louça na pia ou responder mensagens não urgentes) entra na lista do “Agora Não”. Dizer não para outras demandas é dizer sim para sua saúde mental.
4. Conecte-se com a Maternidade Real após a Culpa Materna Pós-Parto
Busque grupos de apoio (online ou presenciais) onde se fale a verdade. Ouvir outra mãe dizer “eu também sinto raiva às vezes” ou “eu também sinto saudade da minha liberdade” tem um poder curativo imenso. Valide seus sentimentos ambivalentes. É possível amar o filho e odiar a rotina do cuidado. As duas verdades podem coexistir.
O Papel da Psicoterapia Perinatal Online
Muitas mães hesitam em buscar terapia por falta de tempo ou por acharem que “deveriam dar conta sozinhas”. A Psicoterapia Online elimina essas barreiras.
- Acessibilidade: Você pode fazer a sessão durante a soneca do bebê, amamentando ou no seu pijama, no conforto do seu quarto.
- Espaço de Escuta Sem Julgamento: O psicólogo perinatal é treinado para ouvir as sombras da maternidade sem julgamento moral, ajudando a diferenciar o que é sintoma do que é desafio circunstancial.
- Prevenção: Tratar a culpa precocemente previne o agravamento para quadros depressivos e melhora o vínculo mãe-bebê. Estudos mostram que mães apoiadas emocionalmente são mais responsivas e sensíveis às necessidades dos filhos.
No Espaço Elleve, nossa equipe é especializada em saúde mental perinatal, pronta para acolher mulheres do Brasil e expatriadas que vivem a solidão da maternidade longe de sua cultura de origem.
FAQ: Dúvidas Frequentes sobre Culpa Materna Pós-Parto
Sim. A privação de sono e o choro constante podem gerar irritabilidade extrema. Sentir raiva não significa que você não ama seu filho ou que fará mal a ele. É um sinal de exaustão. Se for frequente, busque ajuda para manejar.
Ela tende a diminuir e mudar de foco conforme a criança cresce, mas raramente desaparece sozinha sem uma mudança de mentalidade. A terapia ajuda a transformar a culpa paralisante em responsabilidade saudável.
Absolutamente não. Trabalhar pode ser uma fonte importante de identidade e satisfação para a mulher, o que a torna uma mãe mais feliz e realizada. Qualidade de tempo vale mais que quantidade.
O Baby Blues é passageiro (dura até 2 semanas), com choro fácil e tristeza leve. A Depressão Pós-Parto é persistente, intensa, afeta o vínculo com o bebê e a capacidade de realizar tarefas diárias. Exige tratamento.
Sim. Estudos comprovam que a Terapia Cognitivo-Comportamental online é eficaz para reduzir sintomas de depressão e ansiedade perinatal, com a vantagem da conveniência para a mãe.
Conclusão: Acolha a Mãe que Nasceu em Você
A culpa materna é, muitas vezes, o preço que pagamos por tentar viver um ideal inalcançável. Mas você tem o direito de renunciar a esse ideal. A maternidade não precisa ser um fardo de autocrítica; ela pode ser uma jornada de autoconhecimento profundo e reconstrução.
Lembre-se: cuidar de você não é negligenciar seu filho. Pelo contrário, uma mãe emocionalmente saudável é o melhor presente que uma criança pode receber. Se a culpa está pesada demais, dívida esse peso.
No Espaço Elleve, estamos aqui para segurar sua mão (virtualmente) e ajudá-la a encontrar a leveza possível no caos maravilhoso que é criar um ser humano.
Saiba mais sobre psicoterapia perinatal no Elleve e agende sua sessão de acolhimento.
Referências para Culpa Materna Pós-Parto
- Mais de 71% das mães sentem que perderam sua identidade na maternidade – Estado de Minas
- (https://plataformamulheres.org.pt/ser-mae-em-portugal-continua-a-ser-um-desafio-novos-dados-europeus-mostram-lacunas-urgentes-a-colmatar/)
- (https://www.scielo.br/j/prc/a/GS9STNVGFxTFh3qTFZJYv4Q/?lang=pt)
- Neurobiologia da ansiedade e regulação emocional – Artmed
- (https://www.enbuscadesentido.com.mx/blog/19-la-culpa-real-o-neurotica)
- (https://www.interscienceplace.org/index.php/isp/article/view/896)
- (https://jornal.usp.br/radio-usp/depressao-pos-parto-acomete-25-das-maes-brasileiras/)
- (https://www.scielo.br/j/pusp/a/YLgJm6Wyj9qvjzGhsnN3nwq/?lang=pt)
- (https://bloom-care.com/wp-content/uploads/2024/07/autocompaixao-para-maes-1.pdf)
- (https://www.atenas.edu.br/uniatenas/assets/files/spic/monography/1/11/A_MAE_SUFICIENTEMENTE_BOA__o_mito_do_amor_materno_e_suas_consequencias_no_puerperio__2022.pdf)
- Psicologia Perinatal e Parentalidade – MaterOnline
- Espaço Elleve – Psicoterapia Online





